endorfina, dopamina, nicotina
tudo no meu corpo flechado, enfeitiçado, dopado
você enraizado, amordaçado
sem dor, morfina, amor
no meu corpo tatuado
depois disso, defina, meu bem
este é enfim meu estado

segunda-feira, 25 de agosto de 2014 Leave a comment

tudo que quero são os carinhos
sua mão sempre deslizando
nas curvas do meu corpo
seus dedos no meu cabelo
suas palavras no meu ouvido
sua barba na minha nuca
quero seus olhares precisos
seus passos por perto
seu cheiro presente nos livros
suas tintas, seu jeito esperto
seus quadros na parede
seus desenhos espalhados
suas roupas pra dobrar
de você fazer fotografia
seus olhos olhar
um café pra dois
sua voz a ecoando: bom dia
tudo que quero é amor
é cantar pra alguém
tudo que quero
é você que tem

segunda-feira, 30 de junho de 2014 Leave a comment

Discurso de uma mãe vazia.


Em choque, despedaçada.
Sozinha de corpo, completamente, totalmente. Onde ele está, pra onde foi?
Saiu de mim antes do tempo, não era isso, não era assim. Ele nem acordou, nem abriu os olhos, que cheiro de morte, que vontade de morte. Por que?! Por que, Deus? Por que eu?
Logo eu que sou e estou aqui para isso, estava para ele. Ele não deitou em meus braços, não me conheceu, não ouviu minha voz.
Estou banhada de dor, desativada daqui, desliguei-me.
Eu já te amava antes de saber.
Como não tive certeza? Como pude duvidar se tudo sentia? Se a outra metade me disse que sim. Sensível.
Não consigo abrir minha boca para contar a outra metade, para contar a outra parte, que mesmo distante se faz presente. Não consigo, não há quem faça por mim. Volta. Preciso apenas que me abrace, que me carregue. Volta. Se antes sozinha, agora sou ninguém.

Ele não chorou, ele não sorriu, me deixa chorar, me deixa cair. 

Ele caiu.

Ciranda do aborto
(Kiko Dinucci)

Passa na carne a navalha
Se banha de sangue
Sorri ao chorar
Cobre o amor na mortalha
Pra ele não acordar
Sente no fel deste beijo
O agouro da morte 
A se revelar
A vida sem endereço
E sem lugar pra ficar

Vem despedaçado
Vem, meu bem querer
Vem aqui pra fora
Vem me conhecer

A ferida se abriu
Nunca mais estancou
Pra vc se espalhar
Laceado
Mas o chão te engoliu
Toda a lida findou
Pra vc descansar no meu braço
No meu braço
Aos pedaços 

quarta-feira, 2 de abril de 2014 Leave a comment

LIBERTA DE OTELO



Não se pode mais ser clichê, ser comum, ser parnasiano, ser simples ou clássico. Tudo agora precisa de "algo mais", do "alternativo diferente"? Do estético, intelectual e também “aprazível”? Da metáfora clássica quebrada com o marginalismo do malandro moderno, da peça real vivida em vários atos mecânicos que se vestem de grandes personalidades e acreditam sempre no seu potencial dentro de um dom raro "pueril"?

 Sei lá, me contento com os olhos profundamente verdadeiros, com palavras simples, mas verdadeiras. E principalmente palavras boas que não machucam, mas que acariciam. Acredito em declarações nos pagodes de boteco, no rótulo de bombom, na figurinha de chiclete. Basta o olhar dizer que é real, basta as ações realmente acontecerem, a não espera e o não “enfeitar do pavão”, o cavalheirismo natural em coisas incomuns, sem demandas, sem moleskines e mustaches. 
Pois lá se vai mais um "poeta de primeira", fumando o seu próximo cigarro, de porre na Lapa, pois gritou a toa com a mulher que descreveu lindamente em seu papel reciclado. Tudo em nome da poesia, forçando uma cena de Cláudio Assis.

domingo, 30 de março de 2014 Leave a comment

Os pesos agora divididos. Enquanto tento juntar de alguma forma alguma coisa divida aqui, eles estão cheios de si. Em partes me perdi, em inteiros estou encontrada, mas dividida. Em texturas diferentes deslizo sem demonstrar algum dó, alguma dor. Peso, apenas peso sobre quem me puxa, quem me levanta e quem me abraça.
Deixo escorrer entre as partes, entre as penas, entre as pernas. Distanciando cada inteiro que me vem oferecer, dispensando espelho e trajes impecáveis. Impetuosos braços que pesam e seguram minha cabeça ao dormir, ao tentar ir, deixar vir. O estrondoso ato de quem divide suas saudades, suas metades inquietas. Uma pesa lá e outra pesa aqui.

Arrebatada, me descabelando por ossos que me pesam, me cobrem e cumprem todo seu papel de choque. Logo numa anestesia tão duradoura, em ensandecidas mentes desabrochadas que pesam e pensam que mentem. Destroçada pelo ar pesado que ficou com a ida dos que vieram para ficar e pesar em todas as partes divididas que deveriam ser coladas e sempre amoladas para afiar. 

domingo, 23 de março de 2014 Leave a comment

Roupas no chão, velas acesas, luz vermelha no quarto
Você me guia às cegas, me deita na rede e mergulha 
É como se meu corpo fosse parte de um canto
Um canto que você precisa ouvir até o fim

De nada nos serve aquele relógio antigo
Já que as horas não passam no nosso país
Durante a madrugada acordamos acesos
O íntimo indiscreto nos deixa queimar

E ao acordar você me aperta forte
Me prende nos braços, me segura ali
Me diz que ir embora é besteira 
E empurra o sorriso dos olhos pra dentro de mim

domingo, 9 de março de 2014 Leave a comment

Fiquei sim.



Esperando uma loucura, gritos, estardalhaços
Você de madrugada na minha porta, dormindo na minha calçada
Me procurando aos sete cantos, chorando de dor, de amor
Esperando um ódio que fosse, um soco no estômago, um pontapé
Um arrebentar de braços, uma parede quebrada, um louco incidente
Algo impossível ou mais ou menos impossível, sem imaginar
Esperando um troço, um ataque, uma fúria um medo incomum
Uma tentativa de sequestro, uma ideia louca, pouca
Fiquei sim
Esperando aquela loucura que tanto foi dita

O tapa, a arma, o ato
o
amor

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014 Leave a comment

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