Discurso de uma mãe vazia.


Em choque, despedaçada.
Sozinha de corpo, completamente, totalmente. Onde ele está, pra onde foi?
Saiu de mim antes do tempo, não era isso, não era assim. Ele nem acordou, nem abriu os olhos, que cheiro de morte, que vontade de morte. Por que?! Por que, Deus? Por que eu?
Logo eu que sou e estou aqui para isso, estava para ele. Ele não deitou em meus braços, não me conheceu, não ouviu minha voz.
Estou banhada de dor, desativada daqui, desliguei-me.
Eu já te amava antes de saber.
Como não tive certeza? Como pude duvidar se tudo sentia? Se a outra metade me disse que sim. Sensível.
Não consigo abrir minha boca para contar a outra metade, para contar a outra parte, que mesmo distante se faz presente. Não consigo, não há quem faça por mim. Volta. Preciso apenas que me abrace, que me carregue. Volta. Se antes sozinha, agora sou ninguém.

Ele não chorou, ele não sorriu, me deixa chorar, me deixa cair. 

Ele caiu.

Ciranda do aborto
(Kiko Dinucci)

Passa na carne a navalha
Se banha de sangue
Sorri ao chorar
Cobre o amor na mortalha
Pra ele não acordar
Sente no fel deste beijo
O agouro da morte 
A se revelar
A vida sem endereço
E sem lugar pra ficar

Vem despedaçado
Vem, meu bem querer
Vem aqui pra fora
Vem me conhecer

A ferida se abriu
Nunca mais estancou
Pra vc se espalhar
Laceado
Mas o chão te engoliu
Toda a lida findou
Pra vc descansar no meu braço
No meu braço
Aos pedaços 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

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